domingo, 20 de maio de 2012

Um crime que continua impune!

Boas!

Já não faço uma publicação há muito e como no outro dia encontrei um vídeo que me indignou bastante, decidi partilha-lo com os meus leitores e desenvolver um pouco a temática abordada no mesmo.

Faço-o pelos mais variados motivos: por ser uma pratica, infelizmente, muito comum; porque é um crime que atenta contra o bem-estar e integridade física destes seres que tanto gosto (as aves); para que estejam atentos e não se deixem enganar nem pactuem com esta prática; e sobretudo para que não se calem, denunciem este tipo de prática, para que as autoridades competentes a possam combater e erradicar. Refiro-me, como provavelmente já perceberam, ao tráfico de aves.

 Este tipo de crime é muito comum em países como o Brasil, onde os Psitacídeos (aves de bico curvo como por exemplo os papagaios) são os mais afetados com esta prática. Contudo, por todo o mundo este crime é praticado e Portugal, embora pareça, não é uma excepção. Também no nosso país é prática de muitos, sendo neste caso as aves de Fauna Europeia as mais afectadas. Nas aves de pequeno porte as mais comuns são o tentilhão (fringilla coelebs), o pintassilgo (carduelis carduelis), o chamariz (serinus serinus) e o pintarroxo (carduelis canabina); já no que respeita a aves de grande porte as rapinas são as mais procuradas para a prática de uma “arte” secular – a falcoaria (caça, com falcões, de pequenas aves e mamíferos. Esta actividade remonta ao tempo dos reis e é geralmente praticada com o caçador montado no seu cavalo) – sendo o Falcão Peregrino (Falco peregrinus) a ave que maior procura tem pois como muitos sabem a sua precisão de captura de presas em voo é excecional e o próprio voo fascinante.

 Em Portugal os locais onde é mais comum a presença de tráfico de aves é nos mercados de rua que decorrem, geralmente ao fim de semana. Obviamente que neles não se encontram aves de rapina porque é algo que dá muito nas vistas, mas no que refere a exóticos, psitacídeos e fauna europeia (de pequeno porte), nem dá para contar pelos dedos a variedade de espécies e muito menos o número de exemplares presentes.  


A meu ver é uma prática que só apresenta pontos negativos, como por exemplo:
  -> As condições em que as aves se encontram acondicionadas são deploráveis, muitas vezes passam um dia inteiro ao sol, sem água nem comida, acabando muitas por morrer.
-> Muitas das aves traficadas estão em vias de extinção e outras já estão em listas de protecção para evitar que entrem para a lista daquelas.
-> Na grande maioria quem vende estas aves nem tem licença de venda para estar na feira.
-> É comum mentirem em relação as aves que vendem, por forma a enganar os menos conhecedores:
 - Dizem que é macho quando na verdade estamos perante uma fêmea;
-Dizem que é novo - e como a ave ate está depenada as pessoas que não sabem acreditam- quando na realidade a ave até é velha e provavelmente depenou-se devido ao stress.
-Dizem por exemplo que é um chamariz (Serinus serinus) quando na verdade é um lugre (Carduelis spinus).

Enquanto nós, criadores, lutamos por legalizar a nossa actividade e vender as aves de forma legal, estes “senhores” vão ao campo com as suas redes, armadilhas, visgos e sei lá mais o quê, apanhar uns passarinhos para vender na feira a um preço que é impossível aos criadores fazer concorrência, pois o preço que os traficantes fazem não chega a ¼ do custo de legalização de uma ave.

A parte curiosa é que muitos até fazem as suas capturas em zonas protegidas como reservas naturais, o que torna a situação ainda mais critica e preocupante. Como se não fosse suficiente, a maioria das pessoas que vê não denuncia, o que por sua vez acaba por dificultar o trabalho das autoridades. Outros ainda, assaltam criadores, escolhendo as aves que falharam anilhagem, roubando as crias se as houver ou então, em último caso, partem a pata da ave para retirar a anilha de criador.

No meio disto tudo, os lesados são em primeiro lugar os Ecossistemas e depois nós, os criadores, porque mesmo tentando ser honestos e legalizar as nossas aves criadas em cativeiro deparamo-nos com todas as burocracias e mais uma. Os custos de legalização são elevados; são requeridas testemunhas em como as aves são realmente nossas; entre outras coisas.

Assim, enquanto nós andamos nisto das legalizações já aqueles “senhores” infringiram uma data de leis e já apanharam, venderam e deixaram morrer mais aves que as que nos nascem em cativeiro durante um ano inteiro.

O grave da questão é que esses acéfalos não têm a mínima noção dos desequilíbrios que provocam nos ecossistemas até porque o mais provável é nem saberem o significado da palavra. E ao passo que nós, nos preocupamos em preservar as espécies, eles apenas pensam no dinheiro que lhes vai encher o bolso.



Posto isto, o meu conselho principal para quem quer adquirir aves é que recorra a criadores: hoje em dia com a quantidade de informação que é possível consultar na internet, não há desculpas para que não se proceda de forma correta.

Contudo, e visto que os mercados de rua não têm só vendedores de aves ilegais (há muitos criadores de aves que têm toda a documentação necessária para estar a vender nessas feiras, e a quem inclusive já comprei aves), ficam alguns aspectos que vos podem indicar que a ave é ilegal:

-> Normalmente, uma ave que esteja a ser traficada, não possui anilha de criador (artigo sobre anilhagem)

-> Uma ave de cativeiro está habituada aos seres humanos e quando um se aproxima da gaiola ela esvoaça mas não exaustivamente ao passo que uma ave que tenha sido capturada em meio selvagem se estiver numa gaiola, só por isso já estará agitada, e depois sentir-se-á encurralada quando alguém se aproxima da gaiola o que fará com que a ave esvoace incessantemente no interior da gaiola.

-> Um bom indicador de tráfico é sem divida o local onde a aves estão acondicionadas e a forma como são acondicionados: o facto de terem ou não acesso a comida e água; o tamanho da gaiola ser adequado ao porte da ave; o número de exemplares por gaiola; entre outros. (exemplo)



Por fim, deixo também alguns links de vídeos relacionados com o tema tratado (infelizmente não consegui encontrar nada relativo ao trafico em Portugal):

http://www.youtube.com/watch?v=-ZshaZTG7eo&feature=bf_prev&list=PL083971C392BF4C14 (este foi o vídeo que me incentivou a escrever esta publicação)

http://www.youtube.com/watch?v=WTeG7vb0fEM&feature=BFa&list=PL083971C392BF4C14

Debate televisivo:
(1ªPate)http://www.youtube.com/watch?v=AHzTmQMxHT8&feature=BFa&list=PL083971C392BF4C14 (2ªParte)http://www.youtube.com/watch?v=FjLyN2Asub0&feature=BFa&list=PL083971C392BF4C14


Cumprimentos!


Bruno Raposo